quarta-feira, 27 de março de 2013

Sadismo na perspetiva de Sartre


Se aceitarmos que a relação sexual é, como todas as relações interpessoais, uma relação de conflito, na qual o Eu, embora precise do Outro para ser confirmado na sua identidade, também o procura objetificar para não ser ele próprio objetificado, percebemos facilmente a estratégia sexual do  sádico.

Cada ser humano é corpo e consciência, “ser em si” e  “ser para si”, na terminologia sartriana. O corpo pode ser facilmente dominado, mas a consciência resiste à dominação e aquele que pretende dominar não se consegue dar por satisfeito. Ele quer também vergar aquela consciência qe se rebela.

Temos então que o sádico não quer apenas apropriar-se do corpo, quer também dominar a consciência que habita esse corpo; mas a consciência só poderá ser dominada se ela própria for reduzida ao corpo - o que acontece quando o corpo experimenta dor e sofrimento intenso; nesse caso, dor e sofrimento impõem-se de tal maneira que “a faticidade invade a consciência” e esta, enquanto consciência reflexiva, é anulada.

O que isto significa é que aquele que sofre não consegue pensar em mais nada senão no sofrimento físico ou psíquico que lhe está a ser inflingido; esse sofrimento absorve de tal maneira a sua atenção que a sua capacidade reflexiva desaparece e com ela a possibilidade de se afirmar perante o outro que, aparentemente, sai vitorioso; e dizemos aparentemente, porque o que ele queria era apropriar-se da consciência do outro, mas a estratégia usada levou à destruição do “bem” perseguido com tanto afinco.

Por tudo isto, deve entender-se o sadismo como a consequência necessária de uma percepção das relações sexuais como relações de domínio/submissão, que numa forma mais ou menos mitigada é a que se encontra presente no ainda atual paradigma sexual.

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